Capítulo 4 – Uma verdade dolorosa
Jeff dirigia-se para o laboratório do Departamento, pois já tinha sido informado que já tinham os resultados da análise do conteúdo do medicamento encontrado no consultório de David. Abriu a porta e entrou, deparando-se com Sebastien, falando com um dos analistas químicos.
- Então, há novidades? – Perguntou Jeff, apoiando uma mão na mesa.
- Há. – Respondeu Seb. – A droga que encontraste é igual àquela que foi encontrada no sangue da Magda.
- A mesma morte que simula a morte… – Refletiu Jeff.
- Exactamente. O que não deixa de ser curioso… Como é que uma droga tão rara e tão difícil de encontrar aparece em Portugal e ainda por cima, duas vezes? – Questionou Sebastien.
- Simples. De onde veio a primeira, veio a segunda. – Desvendou Jeff.
- Bem, eu vou ligar ao Chuck, ele pediu para o avisar quando houvesse resultados. – Revelou Sebastien, pegando no telefone.
- Sim? Ai é? Ok, obrigado, Sebastien, até já. – Respondeu Chuck, desligando a chamada e aproximando-se da mesa onde se encontrava David, sentando-se na cadeira em frente ao médico. – O laboratório confirmou. A droga encontrada no sangue da Magda é a mesma que foi encontrada no seu consultório.
- Mas não pode ser. – Disse David, incrédulo.
- Mas é.
- Não. – Insistiu David.
- Doutor, a sua mulher foi envenenada com essa substância. – Repetiu Chuck, um pouco impaciente com a negação de David.
- É impossível! Eu sou a única pessoa que tem a chave daquele armário e não sei do quê que está a falar, que raio de droga é essa e como é que foi lá parar ao meu consultório!
- O doutor é a única pessoa que tem a chave do armário? – Repetiu Chuck, sério.
- Sou. – Respondeu David, abanando a cabeça.
- Então… – Soou Chuck, encolhendo os ombros, como se tivesse decretado a sentença.
- Mas eu já lhe disse que eu não sei de nada!
- Pois, mas aquilo que eu sei neste momento, é que o doutor é o principal suspeito da tentativa de homicídio da sua mulher, Magda Desrosiers.
David ficou embasbacado a olhar para Chuck.
O quarto estava silencioso. Cândida afastou-se da mesinha, com um frasquinho de comprimidos numa mão e um copo de água na outra e encaminhou-se para a cama, sentando-se na beira.
- Toma, maninha, este calmante vai fazer-te bem. – Disse Cândida, esticando as mãos com o frasco dos comprimidos e com o copo de água.
- Ai… – Suspirou Magda, massajando a têmporas. – O David…
- Tem calma… – Pediu Cândida.
- Tu achas que ele tem alguma coisa a ver com o que me fizeram? – Perguntou Magda, com a face entre as mãos e olhando a irmã.
- Eu não sei. Vá, bebe.
Magda suspirou e pegou no copo de água com uma mão enquanto Cândida tirava o comprimido do frasco.
- A polícia levou-o… Aquele Inspector, o mais simpático… – Pausou Magda, tentando lembrar-se do nome. – O Sebastien. Ele disse que tinham de falar com ele nas instalações da Judiciária.
- Eu sei…
- Mas porquê? – Perguntou Magda, tomando o comprimido. – Se ele não tem nada a ver com isto porquê que o levaram?
- Eu não sei, minha querida, mas vá, agora vais descansar, depois falamos disto, está bem?
- Eu não estou a perceber o quê que… – Começou Magda, pousando o copo na mesinha de cabeceira. – Eu não entendo…
- Então…? – Perguntou Cândida.
- E se… Cândida e se o meu marido me tentou… – Parou Magda, olhando a irmã.
- Magda, vá… – Disse Cândida, ajeitando as almofadas.
- E se foi ele? – Perguntou Magda, com olhar triste.
- Shhh. Vá. Eu vou trabalhar mas venho já.
Cândida arranjou as almofadas enquanto Magda se acomodava para dormir. Não lhe saía da cabeça a possibilidade de ter sido David a tentar matá-la. Não queria pensar nessa hipótese. Não fazia sentido para ela. Sentia-se confusa. Fechou os olhos, tentando descansar e não pensar em nada.
O escritório estava praticamente vazio. Apenas sobravam as duas secretárias e um monte de caixotes, com todos os pertences. Pierre acabava de arrumar mais uns papéis e voltou-se, metendo-os no último caixote, fechando-o.
- Tu não vais pagar-me uma indemnização? – Perguntou Hortense, com ar zangado.
- Não tenho como, Hortense. – Respondeu Pierre, pacificamente.
- É melhor arranjares maneira… E depressa! – Disse, levantando o tom de voz.
- Hortense, por favor.
- Por favor, nada! – Respondeu. – Pelo que eu tenho aturado ao longo destes anos todos, eu mereço muito dinheiro!
- Dinheiro que eu, não tenho! – Informou Pierre, encolhendo os ombros.
- Ouve, Pierre… – Soou Hortense, após respirar fundo. – Eu estou farta, farta de ser maltratada por ti. E tu sabes perfeitamente que eu não estou só a falar do dinheiro.
- A esse assunto, é que nós não vamos mesmo voltar. – Contestou Pierre, sereno.
- Pois não… – Disse Hortense, aproximando-se de Pierre e olhando-o de alto abaixo. – Já chega. Quero o dinheiro!
- Não tenho.
- Arranja! Ou eu conto a toda a gente o que se passa com a Magda Desrosiers.
Pierre ergueu a sobrancelha e olhou-a com ar aparvalhado. – O quê?
- Eu sei tudo o que se passa, Pierre. – Confessou Hortense, sorrindo. – O que se passou, o que ainda se está a passar…
Pierre riu, perante a insinuação. – Eu não sei do quê que tu estás a falar.
- Sabes, meu amor. Claro que sabes. – Continuou ela, sorrindo. – Tens dois dias. Depois eu vou à polícia.
- Eu não tenho o dinheiro que tu queres!
Hortense acenou a cabeça, não se importando e deixou o gabinete, levando os seus pertences.
Jeff estava desconfiado. Achava que algo não batia certo e quando isso acontecia, não desistia até descobrir. Estava na sua secretária, conversando com Sebastien, que brincava com o seu cubo mágico.
- Há qualquer coisa…
- Porquê? – Perguntou Sebastien, confuso.
- Não sei…
- Mas não encontraste a droga no consultório do marido? A mesma droga usada na…
- Sim! – Interrompeu Jeff. – A Magda Desrosiers foi drogada com aquilo. Coincide perfeitamente.
- E então…? – Perguntou Sebastien, com a língua de fora, olhando o cubo.
- O David parecia sinceramente estupefacto. – Disse Jeff, inclinando-se na secretária, apoiando os cotovelos. – Ele abriu o armário na maior. Com todas as calmas, sem hesitar… Sem tremer.
- Há pessoas com muito sangue frio neste mundo… – Relembrou Sebastien, não tirando os olhos do seu objecto de entertenimento.
- Eu sei. Mas…
- Mas achas que não foi ele… – Concluiu Sebastien, olhando finalmente o amigo. – Mas as provas indicam que ele é culpado.
- Tudo indica que sim. E é o que eu te digo, a surpresa quando eu encontrei a droga no armário foi demasiado genuína… Foi como se ele nunca tivesse visto aquilo na vida.
- Estava a disfarçar. É. É um grande mentiroso. – Soou Sebastien, voltando a focar a sua atenção na tentativa de resolução do cubo.
- Acredita em mim, ele é mais do que um grande mentiroso. Eu nunca vi ninguém agir assim…
Sebastien trabalhava há muito tempo com Jeff e sabia que ele era dos melhores Inspectores, nunca duvidava dos pressentimentos do amigo. Contudo, agora estava confuso. Tinham provas irrefutáveis contra David Desrosiers.
- Tu não largas isso?! Irra! – Resmungou Jeff.